Vicente do Dario Para Ouvir a Música é SÓ CLICAR 2 Vezes com o MOUSE no TOCA-DISCOS

Sô Dario, pai do Vicente, sempre manteve, ao longo da vida; uma relação forte de amizade com o meu avô Marcílio, estendida ao meu pai Zizinho.

A primeira viagem de meu pai, como boiadeiro, levando uma tropa ao Rio de Janeiro, teve como comandante o Sô Dario. Mais tarde, no passar do tempo, foi meu pai quem chefiou o Vicente, em jornadas "boiaderísticas", com duração de mais de 30 dias, aos frigoríficos de Itaboray e São Gonçalo.

Lembro-me, em criança, do Vicente cantando e tocando pandeiro na Barbearia do Sô Nilo. Imitava, com perfeição, o cantor Miltinho em músicas como "Mulher de Trinta" ou "Eu e o Rio".

Tenho lembranças, ainda, dele carregando de uma vez só, 2 sacos de arroz com 60 quilos cada. O Sô Manduca dando as ordens no carregamento do caminhão do BIÉ (Gabriel Linhares). No volante, do veículo, o Paulo Ramos ou alguém da família SIQUEIRA com destino a então capital federal, o Rio de Janeiro.

Depois, com caminhão em movimento, desfilando-se pelas ruas da cidade, equilibrando-se de pé em cima da carga, malabaristas da vida; o Vicente do Dario e o Pinduca.

Verdade, confesso, batia uma inveja : Quando crescer quero ser forte e ágil com estes dois malucos.

Conheci o Vicente, mais tarde, nos primeiros acordes da mocidade, em cantorias regada a violão e pinga. Nestas ocasiões, infalivelmente, o Vicente cantava "Dolores Sierra".

Depois, a meu pedido, cantava uma música de sua autoria : "Pedro dos Santos" :

.Muito tempo depois, ainda no tempo de disco de vinil, folheando-os numa loja de Belo Horizonte, deparei com "Pedro Pedregulho", num disco do mineiro de Juiz de Fora, o grande sambista Geraldo Pereira que morreu em 08 de maio de 1.955, em conseqüência de uma briga com o Madame Satã.

Pedi a balconista para escutar o disco e lá estava :

" Pedro dos Santos,

Vivia no Morro do Pedregulho,

Quebrando boteco, fazendo barulho,

Até com a própria polícia brigou.

Vivia do jogo . . . "

Aí pensei com os meus botões : Esta música é a mesma do Vicente!

(É obvio que comprei o disco e o tenho guardado entre as minhas relíquias.)

Restou, entretanto, a dúvida. A música era mesmo só do Geraldo Pereira ? Por que não podia ser do meu amigo Vicente do Dario ? Talento e musicalidade para tanto ele tinha.

Quem sabe houve uma parceria, entre os dois, que não ficou esclarecida ?

O Vicente residiu no Rio de Janeiro na década de 50 e freqüentou a Lapa e a boêmia. Talvez até tenham morado juntos.

A música que se escuta ao clicar o toca-disco, no início da página, é do Vicente do Dario e também fazia parte obrigatória do repertório, em nossos (des)encontros musicais.

 

Carnaval que passou...
Foi
Mais um carnaval que passou.
Foi de um triste fim
O nosso amor. ( o nosso amor )
Mas hoje,
Você volta arrependida,
Me pedindo guarida.
Implorando o meu perdão.
Mas eu não dou,
Você não merece,
Em todo carnaval você desaparece.

Trata-se de uma gravação caseira, amadora.
O encontro aconteceu no Bar da Esquina (CAPUTO) em 1.978.
Ao fundo, escutam-se vozes, conversa fiada, dos eternos mal-educados. Que "qui" se há de fazer...

Escrito por Ildefonso (Dé) Vieira - 12/12/1.998

 

Sôdade ( de Marcus Cremonese )

" Daí me lembrei de uma coisa aí do Guidoval. Eram umas nove da noite, noite escura e fria de julho. Havia um grande galpão onde o Dario do Chico do Padre teve uma serraria, nos fundos do quintal da minha avó Jovita.

Lá no fundo, na residência temporária da família do Dario, um radinho, ondas médias ou talvez curtas devido à distancia do Rio, chiava como um desesperado.

Eu ia passando pela estrada de terra, vindo lá dos lados do 'estaleiro' - sim, onde serravam taboas a gurpião... isso existiu lá prá baixo da casa do Antônio Barbosa.

Lá de dentro do galpão uma voz conhecida: - Marquinho, Marquinho, vem cá correndo!

Era o Vicente do Dario. Colamos o ouvido ao rádio e ele me explicou o que tava rolando: - Olha como esse cara toca um violão diferente, completamente doido, né?

Fiquei surpreso e contente, pois em geral as pessoas mais "sérias" (ou menos informadas), ou as cabeças conservadoras do interior, reagem ao novo com espanto, na defensiva, quando não rejeitando à primeira vista.

Mas o Vicente era um puro. Aquele violão gostosamente desengonçado, inovando o samba - que andava meio embolerado - fazia a cabeça do Vicente, assim da primeira vez. E fez a minha também.

Era o Jorge Bem, se apresentando num programa de rádio ao vivo, dando entrevista e tocando alguma coisa. Não havia ainda nem gravado o seu primeiro disco. E o Vicente do Dario já havia sacado o violão dele.

Obrigado, Vicente do Dario."

Marquinho da Rute